Bolsonarismo fez menos pelo Estado do que você no seu dia mais improdutivo
Carnaval fora de época do ex-presidente no Estado teve climão e idolatatria, só não teve o que o povo deveria querer: atestado de competência
E aí, meu povo? Como estão?
Por aqui, aquele climinha de mundo acabando com véspera de eleição. Seguimos respirando fumaça e sob impacto de uma agenda eleitoral que ainda não trata o meio ambiente como prioridade. Está cansativo lembrar disso toda semana, mas não podemos descansar.
E se o ar já está pesado por aqui, imaginem como estava há uma semana, quando o ex-presidente Jair Bolsonaro decidiu fazer uma visita rápida a cidades catarinenses onde seu governo não se fez presente por quatro anos. Mas quem disse que isso importa, não é mesmo? Bom, como para nós importa, vamos conversar um pouco mais sobre isso e torcer para que tão cedo aquela fumaça podre não volte a dar as caras por aqui. Bora rolar a barra?
Imagem criada por Inteligência Artificial
1 - Vi (no jornal) na Internet
Zero obras - Sem qualquer projeto, obra ou legado de gestão em benefício aos cidadãos catarinenses durante seu mandato, o ex-presidente Jair Bolsonaro fez uma rápida tour por Santa Catarina no fim de semana para apoiar candidatos do PL e seus aliados. Sempre acompanhado do governador Jorginho Mello, licenciado para se dedicar à campanha (priorizar o Estado não quer), reuniu apoiadores que parecem cada vez mais confusos sobre suas entregas.
"Não sei responder", "agora cê me pegou", "eu não acompanho muito isso", "foi a ajuda ao pobre, o bolsa família, a possibilidade de comprar a sua comida, o seu gás, o seu aluguel". Essas foram algumas das respostas coletadas pelas comunicadoras Jade Beatriz e Luiza Coelho quando confrontaram parte da militância que aguardava Bolsonaro em Criciúma, em ato de apoio à candidatura do deputado federal Ricardo Guidi. O material, publicado em vídeo, revela que há um vácuo de informação sobre a gestão do ex-presidente no Estado.
Dá um Google - Esse vácuo é desconstruído em rápida pesquisa na internet. Corte de orçamento para obras em rodovias, divulgação de obras pagas pelo então governo estadual como se fossem do seu mandato e vagos registros de "entrega de vacinas" e assinatura de "acordos de cooperação técnica e contratos de cessão imobiliária" indicam um apagão de entregas e ações federais no Estado sob o ex-presidente.
O apagão é usado politicamente por Jorginho Mello - que cobra do governo Lula um investimento que seu antecessor, Carlos Moisés, fez nas rodovias federais do Estado negligenciadas por Jair Bolsonaro. "As pessoas gostam do Bolsonaro pelo o que ele representa, pelas bandeiras que defende, e não pelo o que ele fez", revelou, em ato falho, o deputado estadual Jesse Lopes (PL) em comentário no vídeo viral.
Dinheiro no cofre - O deputado é natural de Criciúma. Parte da tour de Jair Bolsonaro pelo estado no último fim de semana, o município recebeu R$315 milhões em repasses federais totais no último ano de mandato do ex-presidente. Em 2023, primeiro ano da gestão Lula, subiu para R$ 360 milhões. Já para este ano, o governo federal anunciou para a cidade acréscimos em obras de macrodrenagem e prolongamento do canal auxiliar do Rio Criciúma, com investimentos de cerca de R$ 20,6 milhões.
Os benefícios aos cidadãos da cidade também oscilaram do último ano de Bolsonaro com relação ao primeiro ano de Lula. O ex-presidente pagou R$ 53,81 milhões em benefícios, contra mais de R$ 80 milhões de Lula. Ou seja: nem mesmo a cidadã que disse que Jair Bolsonaro ajudou quem precisava conseguiu ter um pingo de razão.
Comparações - No primeiro ano do governo Lula, mais de R$16,7 bilhões foram repassados ao estado entre os valores Constitucionais e Royalties e as transferências Legais, Voluntárias e Específicas. No ano anterior, com Bolsonaro regendo a máquina pública em período de eleições, foram cerca de R$15,5 bilhões. Quando se leva em conta somente recursos repassados como investimentos, em 2023, foram mais de R$665 milhões, contra R$420 milhões do ex-presidente. Todos os dados são do portal da transparência e envolvem tanto os repasses obrigatórios como os discricionários.
No grupo de investimentos estão os valores destinados a planejamento e execução de obras, realização de programas especiais de trabalho, aquisição de instalações, equipamento e material permanente e constituição ou aumento de capital de empresas que não sejam de caráter comercial ou financeiro.
Na conta de 2024 ainda irão entrar valores do Programa de Aceleração de Crescimento - Novo PAC e Novo PAC Seleções, que prevêem centenas de obras e equipamentos no Estado. A campanha "Fé no Brasil" indica que, no estado, as ações têm como prioridade as áreas de infraestrutura, saúde, educação e habitação. O Novo PAC Seleções chega a 151 municípios com 370 obras de prevenção a desastres, creches e unidades básicas de saúde. O estado vai ganhar mais três campi de institutos federais e 4,2 mil vagas de ensino técnico.
Sei lá, achei tudo isso ligeiramente maior do que ZERO, que foi o saldo entregue por Bolsonaro em quatro anos.
2 - Deu ruim
Carnaval fora de época - Na passagem pelo estado, Bolsonaro passou pelo litoral norte, onde seu filho Jair Renan Bolsonaro aproveita o hit familiar para fazer campanha à Câmara dos Vereadores de Balneário Camboriú, e pela região Sul. Criciúma, pólo regional, tem uma disputa acirrada entre Guidi, patrocinada pelo governador Jorginho Mello, e o candidato do atual prefeito, que está preso, Clésio Salvaro.
Sem obras para apresentar, a turnê de Bolsonaro contou com pirotecnias como carro de som, recepção em aeroporto e alguns sinais de desgastes dentro do próprio PL. Imagens registradas pela oposição mostram o esvaziamento do apoio em cidades como Balneário Camboriú.
Foto que circulou nas redes sociais mostram público limitado em Balneário
Grande pero no mucho - Em Navegantes, onde ele desembarcou, o apelo do "mito" também foi restrito. Em Tubarão, chegou a se falar em grande "público" a partir de uma foto fechada, mas é possível observar que havia pouca gente em torno do líder da extrema-direita. Ele, que já discursou em carros de som em grandes avenidas, foi recebido num estacionamento de posto de gasolina.
O carnaval fora de época, cujos custos não são contabilizados em portais da transparência (ao menos não agora, devem vir contabilizados com as notas do fundão eleitoral), também rendeu momentos de mal estar, com a deputada estadual bolsonarista Ana Caroline Campagnolo (PL) chamando o ex-presidente de "coitado" em seu Instagram por estar apoiando um candidato que ela não considera à altura.
3 - De olho neles
Micareta II - E por falar em carnaval fora de época, está caindo notinha fiscal do 7 de setembro bolsonarista no bolso do contribuinte. Nós bancamos a deputada Julia Zanatta e sua assessora nessa festinha. R$3,5 mil só em hotel para postar uma selfie em cima de um carrinho de som. Tá caro.
Escola com muito partido - Enviei um pedido via Lei de Acesso à Informação para descobrir quanto está ganhando, por mês, cada reitor das instituições universitárias de Acafe, patrocinadas pelo programa de transferência de verba pública para o ensino superior particular do governo do Estado.
Também pedi o balanço das despesas das universidades que são pagas com as verbas públicas do governo de Santa Catarina. Chama muita atenção a presença da presidenta da entidade, a reitora da Unesc, Luciane Ceretta, em atos políticos. Dessa vez, ela esteve nas agendas com o ex-presidente Jair Bolsonaro. Escola tem partido, então?
Corrupção na prefeitura de Florianópolis - Mais um caso envolvendo a atual gestão da prefeitura de Florianópolis que só descobrimos pela mídia nacional! O ex-secretário de Limpeza de Topázio Neto (PSD), João da Luz, está na mesma investigação que levou à prisão o prefeito de Criciúma Clésio Salvaro. E, pasmem, chegou a levar uma propina em forma de sandália de R$ 4 mil.
Demorou, mas a imprensa local também entrou na cobertura. O que está faltando explicar é um fato no mínimo curioso: o prefeito preso de Criciúma tem um candidato disputando voto a voto a prefeitura com o candidato do governador Jorginho Mello. Já aqui em Floripa, Jorginho é um dos articuladores da campanha de Topázio. Tá rolando aparelhamento das investigações para beneficiar aliados?
4 - Craque do jogo
Bill Gates, bilionário fundador da Microsoft, homenageou o presidente Lula, em Nova York, pelas políticas de combate à fome. O programa Bolsa Família e a Aliança Global contra a Fome e a Pobreza foram destaque na premiação anual da iniciativa Goalkeepers, organizada pela Fundação Bill e Melinda Gates. Eu não costumo pagar pau para bilionário, mas fica aqui também o registro do meu primeiro engajamento massivo no Threads (risos). Graças a ele voltei a incomodar bolsonaristas.
5 - Considerações afinais
Nesta sexta, o Portal Desacato faz um debate com os candidatos à prefeitura de Florianópolis. Apesar da ausência de Dario Berger e Marquito, por outras agendas, e Topázio Neto, a equipe realiza esse encontro desde 2012, e prepara com muito empenho o palco para discutir propostas e temas pertinentes à vida em Florianópolis. Não deixe de passar por lá.
E por falar em jornalismo independente, mais uma ação preocupante do judiciário catarinense contra um portal do estado. O Chuville foi censurado e obrigado a despublicar notícias com denúncias de pedofilia envolvendo um agente público pastor de Joinville. O mais triste disso tudo é saber que os grandes portais e grupos do Estado não se preocupam em noticiar esses fatos, que representam também uma ameaça a eles próprios. Então, hoje te peço de novo: compartilhe minha newsletter para que mais pessoas possam ficar sabendo que há alternativas à mídia hegemônica e que existe jornalismo em outros lugares por aqui.
Volto na semana que vem, às vésperas do grande dia, já com o look escolhido e a colinha preparada para votar.
Abraços e até a próxima!