Custo do voto no 22 não é só político: estamos bancando viagem cara e palanque golpista
Comitiva do governo de Santa Catarina aos Emirados Árabes deixaria o palanque do ato pró-golpe de Bolsonaro mais vazio, mas é claro que nossos representantes deram um jeito nisso. Quem paga? Adivinhe!
Numa semana em que o ex-presidente Jair Bolsonaro se manteve calado no depoimento à Polícia Federal, investigado por coordenar tentativa de golpe, a promessa é de que ele esteja bem falante em ato conclamado para o domingo, 25 de fevereiro, na Avenida Paulista.
E é claro que, mesmo desprezada por todos os analistas de política do Brasil quando o assunto é o espólio político de Bolsonaro, Santa Catarina tinha que se fazer presente nesse palanque. Passar vergonha mais uma vez? Queremos! E por causa disso, hoje começamos do fim…deu ruim!
Deu ruim
1 - Passeio aos Emirados
Ficou bem difícil para o governador de Santa Catarina Jorginho Mello sustentar que a sua comitiva aos Emirados Árabes era séria e importante para o Estado desde que ele decidiu antecipar a viagem para ser papagaio de pirata de Jair Bolsonaro em ato "passa pano para golpe de Estado". Nós sabemos que ele gosta dessa função, mas ela tem um custo. Vejamos:
a) Não há, na agência de comunicação oficial do Estado, dados exatos sobre quem são os membros da comitiva e quais estão sendo bancados com dinheiro público.
Aqui nessa notícia há menção a representantes do Estado e de entidades externas, além de outro gestor público, prefeito de Balneário Camboriú. A falta de transparência não permite estimar o custo global da comitiva, mas sabe-se que o retorno antecipado do governador deve ter custado cerca de R$ 40 mil, mais a diária do servidor que o acompanha pela Casa Militar. Ele disse que vai bancar do próprio bolso. Mas e os demais membros da comitiva que já ganharam diárias? Eles ficam? E fazem o que por lá?
b) A dúvida que não quer calar: a viagem é mesmo tão importante?
Ao antecipar o retorno, Jorginho Mello assinou um atestado de que a viagem aos Emirados Árabes é menos importante do que estar no palanque de Jair Bolsonaro. E se a viagem é pouco importante, custando tão caro, precisava mesmo acontecer? Qual a finalidade de uma agenda tão pouco transparente e cheia de notícias de baixo impacto e interesse público?
c) Vejamos algumas manchetes da própria assessoria de Jorginho:
Jorginho Mello embarca para os Emirados Árabes em busca de parcerias e investimentos para Santa Catarina - OK, não poderia mandar um e-mail?
Representantes do governo dos Emirados Árabes demonstram interesse em investir na infraestrutura de SC - Nossa, podemos todos dormir mais tranquilos por conta desse interesse. Obrigada, governador!
Após Panamá, Governo de SC busca voos diretos para Emirados Árabes - Manchetes que mudam a vida de 99% da população catarinense. Tomara que dê certo, preciso desse voo pra ontem.
d) Me permita comparar…
Em 2023, o presidente Lula também esteve nos Emirados Árabes. Sei que não deveria comparar a agenda de um chefe de Estado com a de um governador de um estado que se vangloria por ser colônia europeia, mas em um único dia, Lula esteve com todos os principais líderes mundiais na Conferência Mundial do Clima, COP 28. Na mesma agenda internacional, também tratou de transição energética, tema relevante para o Brasil e para o mundo e que o governo de Santa Catarina parece desconsiderar. Lula também voltou com a impactante notícia de que a COP-30 será no Brasil. Há líderes grandiosos e líderes menores, não é mesmo?
De olho neles
1 - Devolva o dinheiro, Seif - O senador papagaio de pirata de Jair Bolsonaro, Jorge Seif, também foi ser papagaio de Jorginho Mello nos Emirados Árabes. Óbvio que foi as nossas custas. E óbvio que a presença dele no ato do dia 25 também teve um custo que nós, seus súditos, vamos compartilhar. Não me importo que seja em moedas de centavos, esse dinheiro vem do suor de muita gente e não pode ser usado com essa finalidade. Doutor Pândego trouxe o custo altíssimo da alteração dos voos.
2 - Viagem em família - Que Jorge Seif curte uma viagem internacional a gente já sabe, mas agora também sabemos que quem está de malas prontas para Portugal, onde ele também estará em poucos dias, é a sua esposa, adjunta do Turismo. Catiane Seif estará em Lisboa de 25 de fevereiro a 7 de março para o evento Bolsa Turismo Lisboa.
O presidente do senado Rodrigo Pacheco assinou documento autorizando Seif a participar do evento de 27 de fevereiro a 1 de março, na missão do secretário de Turismo de SC Evandro Neiva Oliveira. O documento omite a presença da esposa no evento. Tudo pago pelo senado. As diárias de mais uma comitiva catarinense no exterior ainda não estão disponíveis no Portal da Transparência.
Vi no Jornal
1 - Ed Pereira complica Topázio e PL
Às vésperas das eleições municipais, a polícia civil divulgou mais dados sobre a investigação de Ed Pereira na operação Presságio. O ex-secretário de Topázio Neto, que chegou a ser cogitado a candidato a vice-prefeito, se complicou bastante. O prefeito de Florianópolis já não sabe mais para onde correr, assim como o PL, que sempre o acolheu em palanque (eu mostrei aqui e Doutor Pandego aqui). Nunca foi contra a corrupcão, não é mesmo?
A imprensa local parece ter esquecido, mas a nacional lembrou! A ex-governadora e agora deputada federal Daniela Reinerh foi uma das deputadas a assinar um pedido de impeachment (!) do presidente Lula pelas declarações sobre o massacre em Gaza. Daniela já se indispôs quando o assunto é nazismo, mas aqui a prioridade parece outra.
Craque do Jogo
Omar Aziz - Num gesto público de coragem, o senador Omar Aziz usou sua fala no senado para defender a onda de acusações e polêmicas em torno de uma fala do presidente Lula sobre o massacre à população palestina por parte do exército de Israel, em Gaza. Aziz lembrou o histórico de ligações do governo extremista de Jair Bolsonaro com o nazismo e repreendeu o presidente do senado Rodrigo Pacheco por se manifestar contra Lula.
Mulher finge ser de liderança do PL e dá golpe em pastores e empresários com passagens falsas de avião - Obviamente somos contra toda forma de golpe e de crime, mas essa notícia aqui fez bastante barulho nas redes e foi sugestão de um amigo querido. Achei que podia ser o alívio cômico da news da semana (risos).
Considerações afinais
Enquanto você lia essa newsletter, Jorginho Mello provavelmente andava pelos Emirados Árabes com alguns livros ornamentais debaixo do braço para entregar a alguém que está muito interessado em investir no Estado. Se é um reitor ou um empresário, pouco importa, a foto está lá e a história pra boi dormir também.
Tenhamos todos uma boa semana, nós, que não subimos em palanque golpista.
Imagem gerada por inteligência artificial. As imagens oficiais são menos simpáticas.