Deputada exalta carteira de trabalho e zomba de Bolsa Família, mas currículo mostra dependência de indicações políticas
Ao tentar exaltar Santa Catarina opondo os indicadores do Estado aos do Maranhão, extremista bolsonarista esqueceu da própria trajetória: esta sim dependente da ajuda do Estado
Oi, pessoal!
Essa semana foi um tormento para os lados de cá. Não só porque tivemos o ex-presidente Jair Bolsonaro em visita a Santa Catarina (já viu meu fio? que tal compartilhar?), mas também porque duas deputadas federais da ala extremista bolsonarista do estado infelizmente protagonizaram feitos marcantes no Congresso Federal. Não sei nem como começar, mas vamos em frente. Prepara a barra de rolagem e vem?
1 - Vi no Jornal
Comparação inadequada - Um vídeo da deputada federal catarinense Júlia Zanatta (PL-SC) viralizou nesta quarta-feira após ela comparar os registros de carteira de trabalho de moradores de Santa Catarina com o número de beneficiários do programa Bolsa Família do estado do Maranhão. Em tom de deboche, a parlamentar disse que o estado dela, ao contrário do Maranhão “tem mais gente com carteira assinada do que no Bolsa Família”.
A fala ocorreu durante sessão que discutia a possibilidade de os estados legislarem sobre porte de arma na Comissão de Constituição, Justiça e Cidadania. Atualmente, Santa Catarina tem 231 mil beneficiários do Bolsa Família, concentrados principalmente nas cidades de Joinville, Florianópolis, Lages, São José e Blumenau.
Redes não mostram CLT - Apesar de trazer à tona o assunto carteira de trabalho, o LinkedIn da deputada federal não apresenta experiências de trabalho regidas pela CLT. No governo de Jair Bolsonaro ela foi coordenadora na Embratur e anteriormente advogada autônoma.
A trajetória profissional anterior, segundo a própria deputada elencou nas redes, envolveu uma sociedade em empresa de suco e a assessoria parlamentar no gabinete do primo, Ricardo Guidi, então no PSD e atualmente deputado federal licenciado. Zanatta também foi assessora especial do Tribunal de Contas de Santa Catarina e teve passagens por diferentes órgãos do governo do estado de 2007 a 2013, nos mandatos do MDB e do PSD. As experiências são em funções comissionadas, de cargo de confiança, sem concurso público. E tudo bem, há muitos comissionados que exercem funções técnicas de forma primorosa. Só não vale ser incoerente.
Upgrade salarial - Segundo o portal da transparência do governo de SC, em março de 2013, ela recebia R$ 3.880,28 para atuar no governo de Raimundo Colombo. Hoje, o salário da deputada federal é de R$ 44.008,52, quase 20 vezes maior do que a renda média dos catarinenses em 2023 e 65 vezes maior do que o valor recebido pelos beneficiários do Bolsa Família no estado.
Atuação modesta - Na Câmara, o trabalho da parlamentar em 2024 tem apenas um projeto de lei exclusivamente de sua autoria em tramitação. Já em 2023, um dos projetos de lei protocolados por Zanatta foi para instituir o Dia Nacional dos Tricologistas, Terapeutas Capilares e Terapeutas dos Cílios. O projeto foi devolvido sem tramitar.
Uma das assessorias de comunicação que presta serviços à deputada foi consultada para que confirmassem os dados do currículo do Linkedin. Também solicitei a cópia da carteira de trabalho da deputada, com seus dados pessoais preservados. Até o momento não obtive resposta.
2 - Craque do jogo
Guilherme Boulos - O deputado federal do PSOL pode ser um sopro de esperança de ventos progressistas na campanha municipal das grandes cidades. Pesquisa divulgada pelo AtlasIntel em parceria com a CNN lhe dá uma ligeira vantagem sobre o bolsonarista de ocasião Ricardo Nunes. Ainda é cedo para detalhar cenários, mas começar na frente já é vantagem.
3 - De olho neles
Folha ponto - No dia em que Jair Bolsonaro esteve em Santa Catarina, detalhes da folha ponto da filha da ex-primeira dama Michelle Bolsonaro como comissionada do governo Jorginho Mello foram expostos. A servidora recebeu diárias para viajar de Brasília a Florianópolis às vésperas do evento do PL Mulher liderado pela mãe na cidade.
Mais de cem mil - Cem mil cairão ao teu lado. Cem mil reais. Enquanto os trabalhadores catarinenses cumpriam expediente, o governador de Santa Catarina ignorava greve de professores e saúde pública em crise, o assessor de gabinete do senador Jorge Seif saía a passeio, o deputado Daniel Freitas (PL) faltava sessões da Câmara e a vice-governadora Marilisa Boehm deixava os cabelos ao vento cometendo infrações de trânsito. Ninguém quer dizer quanto esse absurdo custou aos cofres públicos, mas só em salários eram mais de R$ 105 mil em uma foto, cabulando expediente.
4 - Deu ruim
Greve atropela Jorginho Mello - Os professores da rede estadual catarinense entraram em greve nesta terça-feira, causando uma dor de cabeça ao governador Jorginho Mello, que (des)governa sem grandes opositores e sem muito interesse da mídia local. O sindicato dos trabalhadores disse que tem buscado o diálogo desde a posse do governador. Alega defasagem salarial e várias tentativas infrutíferas de negociação. A tendência é que o movimento cresça se a Secretaria de Administração, indicada para a mesa de negociações, não apresentar uma proposta justa.
De Toni massacra a Constituição, a Justiça e a Cidadania - Poucas vezes na história uma presidente da Comissão da Constituição, Justiça e Cidadania deve ter massacrado tanto as palavras que dão título ao seu comando. A extremista catarinense Caroline de Toni está enchendo a pauta da CCJ (que tem potencial de atrasar muita coisa no plenário) de projetos de lei que flertam de forma flagrante com a inconstitucionalidade. A aprovação do projeto que impede manifestantes da luta agrária de receberam assistência do governo e de serem nomeados a cargos públicos é um exemplo. A aberração do projeto que permite que estados legislem sobre questões armamentistas também.
5 - Considerações afinais
Esta é a primeira edição da newsletter que faço para ser divulgada no portal de notícias ICL Notícias. O portal tem se destacado por trazer conteúdo inédito e exclusivo (o que chamamos de “furo”) e, embora seja de dimensão nacional, também está atento ao que acontece em regiões onde há “deserto de notícias”- nosso caso, em Santa Catarina, onde a cobertura jornalística é bastante restrita. Por conta disso, talvez tenhamos algumas adaptações no decorrer do processo. Vou contando tudo para vocês.
Fiquem bem e até a próxima!