Eleições 2024: pra gente ver o que sobrou do céu
Segundou e a ressaca eleitoral só não é maior do que a minha vontade de compartilhar com vocês o que deu certo para nós
Oi, meus amigos!
Em Santa Catarina, acabou-se eleição 2024.
E muito embora eu ainda não tenha dados e estatísticas que lancem uma perspectiva mais otimista para o caminho progressista para as bandas de cá, decidi vir falar, no calor do momento, sobre o que de melhor vejo no saldo de 2024.
Já aviso, não é muita coisa, mas é muita coisa. Porque pra quem vivia num estado bolsonarista até ontem, ver que apenas metade dos candidatos visitados por Jair Bolsonaro na sua última turnê venceram parece quase um rito de passagem para um novo tempo.
Já quero convidá-los para ouvir uma análise mais ampliada do cenário em SC pós eleições 2024 aqui neste vídeo. Isso porque aqui na cartinha de hoje a ideia é uma análise mais curta e menos detalhada mesmo.
Empatou
Tubarão, com Soratto (73,30%), Itajaí, com Robinson Coelho (50,66%) e Palhoça, com Eduardo Freccia (52,67%), foram as cidades visitadas pelo ex-presidente em sua última turnê pelo Estado que deram vitória ao PL.
Criciúma, Balneário Camboriú, Navegantes deram vitórias arrasadoras para os seus adversários. O PSD, principal partido na disputa com o PL hoje pelo eleitor conservador e pelo espaço no governo estadual em 2026, não precisou do ex-presidente no palanque de Vaguinho (49,33%), Juliana Pavan (42,30%) e Liba Fronza (81,58%).
A que ponto chegamos?
Mas Amanda, você está comemorando que outros bolsonaristas estão ganhando essas disputas? Não, jamais! Estou apenas pontuando que a agenda da última turnê do ex-presidente em Santa Catarina, onde ele parecia ser tão hegemônico, teve um saldo modesto. Se formos olhar para as maiores cidades, o PL está de fora da gestão de Joinville e vai ter que negociar com o PSD de Topázio Neto quem é que vai liderar Florianópolis: os anti-vacina ou os sapatênis gourmetizados.
Pontos de luz
Os partidos de esquerda veem o surgimento de novas lideranças em seus quadros. Florianópolis ampliou UMA cadeira na Câmara, elegendo uma bancada de CINCO vereadores progressistas. O "decano” Afrânio Boppré (PSOL) fez 6.061 votos e foi o terceiro mais votado e vai continuar confrontando a gestão Topázio Neto com aquele vigor de sempre.
No time dos reeleitos está também a vereadora Carla Ayres (PT), com 5.743 votos. Carla se consagra como um dos principais nomes do partido na cidade, pois abraçou a campanha junto com o mandato de deputada federal (ela era suplente e assumiu no lugar de Pedro Uczai) e garantiu volume de votos para puxar mais um vereador do partido.
Na minha avaliação, o eleitor premiou com a reeleição os vereadores que fizeram uma oposição combativa e propositiva simultaneamente. Afrânio e Carla mantiveram seus mandatos porque conseguiram comunicar aos cidadãos exatamente aquilo que se espera do legislativo: fiscalização do prefeito e organização de uma agenda ativa em pautas prioritárias.
Renovação e esperança
Leonel Camasão (PSOL), Ingrid Sateré-Mawé (PSOL) e Professor Bruno (PT) são os novos quadros progressistas na Câmara de Florianópolis. Chama atenção o perfil de diversidade que eles representam. Ingrid amplia a bancada feminista e traz a luta dos povos indígenas, Camasão amplia a bancada de pessoas LGBTQIA+ e Professor Bruno entra como um representante importante do funcionalismo público e da educação numa gestão que tenta criminalizar os movimentos sindicais.
O prefeito reeleito não terá vida fácil. E o jornalismo precisa retomar o seu papel de fiscalizá-lo para que não sejam só cinco vereadores de olho no segundo mandato de Topázio Neto, agora somado à agenda do governador Jorginho Mello.
Melhor tê-los por perto
Giovana Mondardo (PCdoB) também surge como um nome forte no campo progressista, reelegendo-se como a vereadora mais bem votada de Criciúma. Ela já havia mostrado seu potencial eleitoral com a votação para deputada federal em 2022, mas agora se consagra definitivamente como um quadro a ser observado com atenção. Criciúma, aliás, rejeitou o candidato que teve Jair Bolsonaro, Michelle Bolsonaro e Eduardo Bolsonaro em seu palanque. Um recado para Ricardo Guidi, que voltará a Câmara Federal com gosto amargo.
Vanessa da Rosa (PT) será mais uma mulher negra, feminista e de esquerda na Câmara de Joinville. Infelizmente perdemos a professora Ana Lúcia Martins, com perfil semelhante e a pioneira, que agora estará na suplência. Vanessa terá uma batalha árdua pela frente - tradicionalmente, a Câmara de Joinville é radioativa. Mas dona de uma presença política forte e imponente, que combina carisma com uma agenda propositiva, tenho certeza que fará um mandato de muito destaque.
Caê Martins (PT) também é um nome para prestarmos bastante atenção. Em São José, promete uma oposição ativa e vigorosa ao segundo mandato do prefeito Orvino Coelho (PSD), que derrotou a candidato de Jorginho Mello, Adeliana Dal Pont.
Eduardo Zanatta (PT) se reelegeu à Câmara de Balneário Camboriú. Ele, que faz um enfrentamento corajoso ao bolsonarismo radical na cidade, não vai dar um minuto de paz ao novato Jair Renan Bolsonaro.
Professora Deise (PT) foi eleita em Chapecó, onde dois professores (Pedro Uczai e Luciane Carminatti) fizeram uma bela campanha de amor a cidade e em defesa do partido. Ás vezes, o sucesso eleitoral tem saldos diferentes.
Jean Volpato (PT) e Adriano Pereira (PT) se elegeram em Blumenau para não dar folga ao Delegado Egídio (PL). O jornalista Matheus Madeira (PT) também terá seu primeiro mandato em Tubarão.
Hora de pensar no futuro
Estamos comemorando minorias nas Câmaras de Vereadores?
Sim, estamos!
Minorias com boa agenda de trabalho e boa comunicação podem chegar longe. E, o principal, terão a missão de frear anomalias e distorções de prefeitos bolsonaristas.
Além de tudo, os nomes que listei mais acima trazem um sopro de renovação aos partidos de esquerda, que muitas vezes andam em círculos com suas lideranças. Com um bom trabalho, esses novos vereadores podem chegar longe. E todos nós precisamos acompanhá-los com atenção e entusiasmo.
Já vou indo, amanheceu!
Queria deixar um abraço carinhoso ao grande deputado estadual Marquito (PSOL), que foi um sopro de esperança nas eleições de Florianópolis. Não teve um caminho fácil, mas conseguiu ampliar e espalhar a sua luta ativa por justiça sociambiental e se consagrou como o grande nome da esquerda na Capital de SC. Merece aplausos. Falar sobre agroecologia num território que é devoto de empresários e do agronegócio não é tarefa das mais tranquilas.
Um abraço também a todos os candidatos progressistas que encerram sua trajetória em 2024 sem garantir o mandato, mas com aquela sensação de dever cumprido, porque também não é fácil ser quem somos em um ambiente que tenta nos expulsar e criminalizar nossas convicções e bandeiras.
Vamos em frente, gente! Nunca termina e sempre está só começando.