Em SC, eleições têm briga sem foice do PL com o PSD e ares de esperança em Floripa
Me permitam usar da razão e da emoção pra conversar com vocês?
Oi, gente!
Fechando essa newsletter com aquele misto de emoção, medo e encantamento que me arrebatam a cada eleição, seja pra que cargo for. Desde muito pequenina eu participo com vigor dos períodos eleitorais, pois sou de uma família com os pés fincados na política. E, acredite, cresci com uma avó liderando um partido conservador (o PP) e com um avô comunista, preso e anistiado.
Ela, uma mulher que me ensinou desde pequetita que a gente está onde a gente quiser. Dona Lia foi secretária da educação em Araranguá e ajudou a construir a história do partido na cidade. Por isso, ainda criança, eu defendia os candidatos dela na escola ainda que meu pai fosse me buscar com o carro sempre adesivado de estrelas.
Um desses adesivos que pai Pedro usava no carro era de Sérgio Grando 1992. Meu pai era ligado ao sindicato dos professores quando Florianópolis elegeu pela primeira e única vez um governo popular de esquerda. E eu lembro o quanto isso foi comemorado em minha casa, na pequena Araranguá.
Imagem criada por Inteligência Artificial
Só usei esses causos para falar o quanto meu coração ferve em ano eleitoral e o quanto isso move e dinamiza a minha vida, pois sou do time dos que acham que a política muda o mundo, por isso sou uma grande entusiasta dela e da democracia.
Agora vamos ao que interessa que a minha vida não é notícia quente, não é mesmo? Preparei um texto único para a nossa newsletter, embalado para ser uma prévia do que esperar nessas eleições. Vou mais uma vez subverter nosso formato clássico. Pega teu café, segura a barra de rolagem e só vem…
O que (des)esperar…
Considerado um dos estados mais bolsonaristas do Brasil e tomado por operações policiais que resultaram na prisão de 28 prefeitos entre 2020 e 2024, Santa Catarina vai às urnas neste domingo observando uma polarização que já projeta os movimentos de 2026: de um lado o PL, comandado pelo governador Jorginho Mello, e do outro partidos com força política no Estado e que formam o chamado centrão no vocabulário político: MDB, PP e PSD.
Os partidos mostram sua força pelo volume de candidaturas a prefeito. Santa Catarina tem 295 municípios, destes 187 têm candidatos ao cargo pelo PL, 180 pelo MDB, 110 pelo PP, 98 pelo PT e 94 pelo PSD.
Mas é este último que promete brigar por espaço nas eleições ao governo em 2026 elegendo seus candidatos nas principais prefeituras do Estado: chega com vantagem nas pesquisas em Criciúma, lidera com folga em Joinville, onde compôs com o Novo, aguarda um possível segundo turno em Blumenau, ao lado do mesmo partido, e é favorito em Chapecó e São José. Além disso, pode ter uma importante vitória em Balneário Camboriú, cidade em que o filho de Jair Bolsonaro tenta eleição à Câmara.
Já o PL briga com mais força em Blumenau, Itajaí e Brusque, mas também trava disputas equilibradas em Criciúma e São José. Concórdia, no Oeste, é outro município em que os partidos duelam com equilíbrio. O partido do governador também tem força em Palhoça, oitavo maior eleitorado do Estado, mas lá também está em confronto direto com o PSD.
Os caciques Júlio Garcia (PSD) e Jorginho Mello mexem no tabuleiro mirando qual projeto político será mais atrativo para os outros partidos do centrão em 2026. Enquanto isso, mesmo com quase uma centena de candidaturas, o PT ainda não se mostra para a dura eleição que deve enfrentar em dois anos.
Movimentos calculados
A rivalidade entre PSD e PL dá as caras até mesmo em Florianópolis, onde os partidos estão coligados e Topázio Neto (PSD) tem chances de vencer no primeiro turno. O PL tem a vice na chapa, Maryanne Matos, e contribuiu com 36,24% da receita da campanha de R$5,1 milhões, a mais rica da capital. Lideranças do PSD apareceram pouco em Florianópolis, escolhendo fincar suas forças em São José, cidade ao lado, em que travam com PL uma disputa voto a voto.
O movimento é visto como um balão de ensaio para 2026. Isso porque o ex-deputado federal João Rodrigues (PSD), bolsonarista de carteirinha, ensaia sua pré-candidatura circulando pelo Estado mesmo sendo ele candidato à reeleição em Chapecó. Enquanto Jorginho Mello se licenciou para fazer uma rota de campanha, Rodrigues também viajou. “Tem candidato que acha que é só colocar o adesivo do PL no peito para representar os ideais conservadores”, provocou, em ato de apoio ao candidato Orvino Coelho de Ávila (PSD), em São José.
Florianópolis é esperança para a esquerda
No meio do mapa, uma Ilha é o que se pode chamar de exceção nas disputas entre conservadores que dominam a política de Santa Catarina. Em Florianópolis, o candidato do PSOL, Marquito, desponta como o favorito para chegar ao segundo turno, caso a eleição não se resolva no primeiro.
Liderança em ascensão no partido após ser eleito vereador e deputado estadual, Marquito tem como pauta central a agroecologia, as questões climáticas e a mobilidade, mas não conseguiu costurar uma aliança com o PT, PSB e PC do B, que se reuniram em torno de Vanderlei Lela (PT), atrás nas pesquisas mais recentes do 100% Cidades.
Marquito recebeu R$ 1 milhão pelo fundo eleitoral, numa campanha cinco vezes mais modesta do que a do principal adversário, o prefeito Topázio Neto. No domingo, também pode ser pego de surpresa pelos adversários de centro, que estão todos muito próximos numericamente, com destaque para o ex-prefeito Dario Berger (PSDB), que se reveza com ele no posto de vice-líder em diferentes pesquisas que circularam na cidade.
E os prefeitos presos?
Os catarinenses também vão às urnas neste domingo com um histórico de 28 prefeitos presos em operações policiais nos últimos quatro anos. Fraudes na coleta de lixo, nos serviços funerários e no transporte escolar estiveram em evidência em uma relação que também é hegemonicamente formada por bolsonaristas.
MDB, PL, PSD, Patriotas, PP, Republicanos, Podemos e PSDB integram os partidos com gestores municipais respondendo à justiça. O PT também teve uma prefeitura alvo de operações. Curiosamente, PSD e PL também duelam no quesito presidiários: o PL tem cinco e o PSD quatro. O MDB lidera o ranking, com oito. PP também somou cinco prefeitos com problemas judiciais.
A última dessas prisões, de Clésio Salvaro (PSD), em Criciúma, foi tratada por ele como "manobra política". "Ninguém é preso de graça", disse o governador Jorginho Mello à Rádio Som Maior ao rebater o prefeito e demonstrar mais uma vez que a rivalidade entre PL e PSD no Estado deve durar mais que uma estação.
O PSD reagiu por meio do seu diretório chamando a fala de "desespero político" e tentando capturar o eleitor bolsonarista radical. A nota do partido diz não ser por acaso que Mello "se ausentou do ato de 7 de setembro, convocado por Jair Bolsonaro, e que Silvinei Vasques, preso por um ano sem processo ou condenação, preferiu integrar um governo do PSD, recusando os convites do PL".
O que esperar?
Sinceramente? Não podemos esperar muito. Santa Catarina é um estado reacionário e vemos um governador com tradição no fisiologismo (sim, Jorginho Mello também já andou agarrado na esquerda quando foi conveniente) buscando se fortalecer diante de um partido com a mesma tradição (o PSD é base do governo Lula).
Os prefeitos eleitos serão cabos eleitorais em 2026 para um projeto ou para o outro - e, acredite, ambos são iguais. E ambos vão abraçar o Bolsonarismo ou o Marçalsismo, certamente o que estiver mais na moda no momento.
Para nós, eleitores que esperam cidades, estados e um Brasil mais socialmente justo e igualitário, vai restar sempre a possibilidade de reflexão auto-crítica. O que está faltando na nossa comunicação? Não é hora de os partidos com os quais nos alinhamos reverem suas práticas, seus caciques e suas estratégias? Será mesmo que um Estado que recentemente levou o PT a um segundo turno para o governo vive à sombra de um extremismo amaldiçoado pelo bolsonarismo?
Quantas perguntas, né?
Considerações afinais
Antes de ir embora, eu queria compartilhar com vocês que estarei CINQUENTANDO nessas eleições.
Mentira, faço 42 em dezembro.
Mas, sim, meus votos para prefeito e para vereador serão no PSOL. No meu Instagram (procure os destaques eleições24), eu expliquei porque acredito que os jornalistas podem e devem revelar seus votos. Os meus são no Marquito e no Leonel Camasão, mas desejo sucesso e sorte às pessoas que trilham a estrada da justiça social, da igualdade e da luta pelos direitos humanos.
Até a próxima, pessoal. Votem com amor e vontade.