Lula vem a SC entregar obras, feito inédito para um presidente nos últimos anos
PT-SC vê polarização, mas enxerga o contexto da visita como muito melhor do que o de 2022, quando reuniu milhares de militantes em um comício às vésperas do primeiro turno
Oi, amigos!
Lula deve chegar nesta sexta-feira em Santa Catarina e as suas missões são claras: se apresentar como um gestor de entregas e obras e, claro, lembrar ao eleitor catarinense o seu peso como puxador de votos em um estado marcado por um bolsonarismo insano, mas que ainda tem uma militância no pólo oposto, pronta para defender seu mandato (e a democracia).
O mais curioso é que, mesmo que ele não viesse nunca, entregaria o mesmo número de obras do que o seu antecessor: zero. Sim, Jair Bolsonaro passou férias em Santa Catarina, fez motociatas alucinadamente…mas não deixou nada, nenhum legado para o Estado além da vergonha que a gente passa todos os dias por causa dele.
Então, vamos de barra de rolagem ouvir um pouco mais dessa história sobre a primeira vinda do presidente no seu terceiro mandato?
Imagem criada por inteligência artificial
1 - Vi (no meu) jornal
Olha ele vindo - Lula chega a Santa Catarina nesta sexta-feira, 9 de agosto, para inaugurar uma grande obra rodoviária, cuja espera levou pelo menos dez anos. Previsto para ser entregue em 2012, com obras iniciadas em 2014, o contorno viário da Grande Florianópolis tem execução da concessionária Arteris Litoral Sul, responsável pelo trecho de 50 km que promete desafogar o trânsito com um corredor expresso, seis acessos por trevos e quatro túneis duplos. O contorno é considerado a maior obra rodoviária do país e é tratado pelo governo federal como "alternativa eficiente e segura ao tráfego da BR 101".
Eficiência e segurança - Essas são duas palavras de ordem na primeira agenda de Lula em Santa Catarina neste terceiro mandato. Além de ser considerado um estado bolsonarista, ele é governado pelo bolsonarismo, inclusive com cargos loteados para a família e pessoas próximas ao ex-presidente, como a filha da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro. Na Assembleia Legislativa, na Câmara e no Senado a bancada também é predominantemente bolsonarista.
"O presidente vem ao Estado para mostrar o que está sendo feito. É o primeiro comparativo real que temos para apresentar do que era o governo anterior e o que é esse governo, com entregas", afirma Luciano Boico, dirigente do partido no Estado. O partido entende que é uma oportunidade concreta para que os catarinenses possam comparar as gestões Lula e Bolsonaro. Apesar de ter visitado SC inúmeras vezes em quatro anos, Bolsonaro não entregou nenhuma obra na região.
Efeito político - O PT, que este ano tem seu recorde de candidaturas no Estado, reconhece que pode haver um efeito político na visita do presidente, mas seus candidatos não estarão na inauguração, como prevê a legislação eleitoral. O partido de Lula lançou candidatos nas maiores cidades do Estado, as únicas com segundo turno: Carlito Merss, em Joinville; Vanderlei "Lela", em Florianópolis e Ana Paula Lima em Blumenau.
A preocupação com a segurança do presidente e possíveis ameaças em um estado visto como bolsonarista foram transferidas à Polícia Federal. O partido chegou a mapear "falas inadequadas" por parte da militância extremista, mas minimiza possíveis inconvenientes e constrangimentos à agenda.
O presidente vai aterrissar em Santa Catarina após um sobrevoo pela área do contorno viário. Depois, parte para uma agenda em Itajaí, no lançamento de uma fragata da Marinha. O evento na Grande Florianópolis, aberto, deve receber, segundo previsão do PT, cerca de 10 mil pessoas. "Esperamos nesse público a militância, mas também a sociedade civil, que aguardou essa obra que vai mudar a vida na Grande Florianópolis. Achamos que Lula voltou no tempo certo, com entregas consistentes para o povo trabalhador", sintetiza o dirigente.
Lembra disso? - Tratada como um território bolsonarista, Santa Catarina deu a Lula, em 2002, 56% de votos válidos já no primeiro turno. No ano em que Lula se elegeu presidente pela primeira vez, uma "onda" tomou conta do Estado, influenciando inclusive na eleição para o governo, quando Luiz Henrique da Silveira, então PMDB desmontou a hegemonia do hoje senador Esperidião Amin (PP).
A "onda Lula" não se repetiu em 2006, quando o Estado preferiu Geraldo Alckmin com os mesmos 56% dados a Lula anos antes. Em 2010 e 2014, a tendência de rejeição ao PT prosseguiu: Dilma Rousseff perdeu para José Serra e Aécio Neves, com apenas 38,71% e 30,74% dos votos. Em 2018 e 2022, o estado consagrou Jair Bolsonaro com 65,82% e 62,21%, elegendo também para o governo os candidatos que levantavam bandeiras bolsonaristas.
Grife Lula - O PT afirma que tem pesquisas indicando que mesmo com um cenário de adesão ao bolsonarismo, Lula é um grande puxador de votos no Estado, com cerca de 33% da população afirmando que votaria em um candidato apoiado pelo presidente. Além disso, com relação às filiações partidárias, há um equilíbrio entre PT e PL, com cerca de 7% cada do total de eleitores filiados, apesar de o PL ter praticamente dobrado o seu número em quatro anos.
O governador bolsonarista Jorginho Mello vai faltar a inauguração, com a desculpa de uma reunião com governadores do Sul e do Sudeste no Espírito Santo. "Já era esperado. Não recebeu ministros nas 26 vezes em que estiveram em Santa Catarina. Isso prova que ele está mais preocupado em não se indispor com bolsonaristas, não exercendo seu papel institucional. É como se eu fosse receber uma visita e saísse de casa", comentou o deputado estadual Fabiano da Luz (PT).
Agenda estratégica - O parlamentar vai representar a Assembleia Legislativa de Santa Catarina nas duas solenidades, num gesto da presidência da Casa ao papel da bancada do PT na vinda do presidente ao Estado. "O clima é bem diferente de 2022. Na época, a estratégia era não deixar o Lula circular, mas agora ele é o presidente, com resultados para apresentar. O clima é mais ameno e tranquilo, muito melhor do que o da última vez", pondera Fabiano, sobre a diferença dessa visita com relação à última, um comício às vésperas do primeiro turno que reuniu milhares de militantes no Centro de Florianópolis.
O deputado também vê Lula como uma presença importante para consolidar seu papel político no Estado, o que pode ter impacto no cenário eleitoral. "Lula tem uma ligação com o povo muito forte. Sua presença é importante porque ele vai entregar obras que são um marco para o Estado. É uma agenda estratégica para a economia de Santa Catarina".
2 - Craque do jogo
Rebeca, Bia e a mulherada - Literalmente CRAQUES, as medalhistas de ouro do Brasil nas Olimpíadas de Paris, Rebeca Andrade e Beatriz Souza, enchem o nosso coração de orgulho e alegria. E os nossos olhos de certeza: são mulheres negras colocando o seu corpo, a sua determinação e o seu talento para representar o nosso país para o mundo.
Quantas Bias e Rebecas não estamos deixando de fortalecer e de incentivar por vivermos num país machista e racista? Essa não é uma reflexão baseada em identitarismo, mas em números, seja sobre mercado de trabalho, seja sobre violência doméstica, seja sobre representatividade política.
Se você acha que perceber a simbologia dessas conquistas é lacração, entenda que não é: é justiça. E quando uma delas ganha, um novo mundo se abre para muitas outras.
3 - De Olho Neles
Corrente de transparência bolsonarista - Comecei a dar vazão a dados da transparência de candidatos à reeleição que estão apoiados no bolsonarismo e na agenda bolsonarista para se reelegerem. Aqui e aqui eu explico melhor a dinâmica dessa iniciativa, uma ação voluntária em nome da cidadania, do direito à informação e da transparência pública.
Influencers - Na estreia da “corrente", mostrei uma nota de R$ 400 mil paga pela prefeitura de Florianópolis, sob o comando do candidato à reeleição Topázio Neto, a uma agência que contrata influencers para marketing.
Por que só bolsonaristas? - O bolsonarismo foi ineficiente para Santa Catarina durante os últimos anos. O ex-presidente não só não fez nada pelo Estado, como nos deixou muitas sementes da sua ideologia macabra, que é contra a diversidade, os direitos humanos e a democracia. Qualquer candidato que replique esse discurso representa um risco enorme aos cidadãos. Precisamos aprender a enfrentá-los com informação de qualidade. As informações públicas estão aí justamente para isso. Vocês me ajudam a divulgar?
4 - Deu Ruim
Má-fé - Rudson Marcos, juiz do caso Mari Ferrer, o mesmo que recebeu uma advertência do Conselho Nacional de Justiça por sua atuação no caso e que processa uma série de pessoas que criticaram sua sentença foi condenado a pagar percentuais sobre o valor de uma causa, que hoje é de R$ 55.290,78, mais multa por litigância de má-fé, alem das custas processuais.
A história ganhou repercussão por envolver uma série de bizarrices: o juiz queria processar um jornalista, mas processou um homônimo. Ele também dizia que este jornalista escreveu coisas que ele nunca escreveu.
Desistiu - A justiça entendeu que havia má-fé na ação. O “puxão de orelha” do próprio judiciário fez com o que juiz desistisse de outros processos - o impressionante número de 182 ações que ele movia contra personalidades e jornalistas que repercutiram sua atuação no caso Mari Ferrer.
Para quem não lembra, o caso é uma denúncia de estupro por parte de uma jovem em um badalado beach clube de Florianópolis. Rudson Marcos foi o juiz que absolveu o réu em setembro de 2020, após uma audiência em que a mulher passou por uma série de constrangimentos.
5 - Estréia de Nova Sessão: Desinformação da Vez
Vamos taxar a desinformação? - Toda vez que uma desinformação bombar e embaralhar o jogo democrático trarei aqui o antídoto informativo contra ela. Tipo um “arquivo corrigido vale esse". Nesta semana, foi novamente a questão tributária que mobilizou os extremistas num jogo de mentira e distorção.
Primeiro os bolsonaristas disseram que as medalhas olímpicas seriam taxadas. A Receita Federal desmentiu.
Depois, eles desinformaram ao dizer que o governo Lula ia taxar os prêmios olímpicos - a taxação ocorre em transações finaceiras previstas em lei desde 1988, não é uma medida do governo, tanto que foi executada também no mandato de Bolsonaro.
Restou ao governo, em meio a uma batalha discursiva difícil por envolver uma agenda já em pauta desde os memes da Reforma Tributária, lançar uma medida provisória isentando os atletas do imposto. Exemplo claro da bagunça que a desinformação é capaz de criar no debate público.
6 - Considerações afinais
Então é isso, pessoal! Em meio a uma alegre temporada na Bahia, me despeço. A próxima edição dessa news será escrita já em solo catarina (ou seja, sem dendê). Lembro que fechei esse conteúdo nesta quinta e que a agenda presencial está sempre sujeita a mudanças de última hora. Se acontecer, me desculpem por isso.
Até a próxima ;-)
Meu beijo para os extremistas,
direto de Salvador