Parceria sem licitação em SC compromete mais recursos do que manutenção de hospitais
Alguém precisa lembrar urgentemente a esse governo estadual de ampla maioria e com apoio midiático que ele não pode tudo
Bom dia, meu povo!
Good morning para quem não votou no Donald Trump!
Hoje termino de escrever essa cartinha junto com o sol nascendo (ele voltou por aqui, VIVA!). São 6 A.M e eu já estou aguardando, para este dia, as repercussões deste caso que é o tema central da newsletter de hoje: uma parceria de R$ 640 milhões feita pelo governo estadual de Santa Catarina com uma série de pontos de atenção:
O valor alto
O fato de não haver licitação, mesmo com outras empresas operando o mesmo objeto, que é a telemedicina
A empresa ter sido criada no Estado dias antes de formalizar uma proposta milionária
A empresa ter sido alvo de investigações pelo TCE no Piauí, governo com o qual ela tem contrato
Um processo intrincado de compra: a Secretária da Saúde contratou uma empresa pública, que contratou uma empresa privada
E por aí vai, porque pode ter mais, e a gente tem todo direito de querer saber.
Pode vir de barra de rolagem!
Imagem criada por Inteligência Artificial
1 - Vi no Jornal
Obscuro - Uma denúncia do Jornal O Globo trouxe à tona uma parceria sem licitação realizada pelo governo de Santa Catarina com uma empresa de telemedicina do Piauí, que se instalou no Estado três dias antes de apresentar uma proposta comercial à gestão Jorginho Mello. O contrato, regido de acordo com uma “norma de parcerias estratégicas” mobilizada em um instrumento que mapeia “oportunidades de negócio” por parte do Centro de Automação e Informática do Estado de Santa Catarina (Ciasc) prevê R$ R$640 milhões para a prestação de serviços especializados de tecnologia para a realização de teleconsultas. O valor é maior do que os R$540 milhões disponíveis, este ano, para a manutenção das unidades hospitalares sob administração direta do Estado.
O contrato, que já chamou a atenção de lideranças da oposição ao governo Jorginho Mello, também será analisado pelo Tribunal de Contas de Santa Catarina. Um dia após a veiculação da reportagem, o TCE informou, em nota, que “já está analisando o caso, com a requisição de documentos e informações sobre os critérios que embasaram a referida contratação". Ponderou, ainda, que “toda a documentação será objeto de criteriosa análise pelo TCE, que a concluirá com a urgência e celeridade que o assunto requer".
Soluções tecnológicas - A movimentação ocorreu via Ciasc, empresa pública que desenvolve soluções de tecnologias para os governos. A Secretaria de Saúde de Santa Catarina seria a cliente do órgão, mas não é ele quem desenvolve o produto, e sim a Integra Saúde Digital Telemedicina.
A empresa é fornecedora da tecnologia para o estado do Piauí e acessou o órgão público catarinense por meio de um sistema de normas que permite “processo de tomada de decisão envolvendo contratações em oportunidade de negócio, com foco em ganhos financeiros, operacionais e competitivos alinhados ao planejamento estratégico e responsabilidade social do Ciasc, atendendo às necessidades dos clientes internos e externos da empresa".
Vale do Silício - O líder da oposição na Assembleia Legislativa de Santa Catarina, Fabiano da Luz (PT), ironizou o contrato por um ponto que contradiz as próprias falas do governador a respeito do potencial tecnológico e das redes de startup catarinenses. “Florianópolis é considerada o Vale do Silício brasileiro, mas o governo do Estado foi atrás de uma empresa do Piauí para contratar 640 milhões em serviços de Telemedicina sem licitação", escreveu no X, acrescentando que oficializou um pedido de informação ao Executivo.
Para um pedido de CPI, são necessárias 14 assinaturas. Mesmo Jorginho Mello tendo ampla maioria na Assembleia, o clima é de que a oposição consiga as assinaturas por conta das primeiras repercussões do caso junto à opinião pública.
2 - De Olho Neles
No Piauí - Operando no Estado do Piauí, a Integra é citada positivamente em materiais do governo do estado. “O estado já conta com 1.169 Unidades Básicas de Saúde (UBS) equipadas com as salas do Piauí Saúde Digital em funcionamento, possibilitando mais de 128 mil atendimentos, entre consultas e exames, em pouco mais de um ano de criação”.
O contrato entre a empresa e o governo, no entanto, foi alvo do TCE-PI. A representação foi feita pela Diretoria de Fiscalização de Políticas Públicas que apontou irregularidades identificadas no contrato, também sem licitação.
Gestores públicos foram multados e o órgão fez recomendações para que houvesse estudos técnicos e de mercado em caso de nova contratação. O documento aponta falhas no serviço, como o fato de nem todos os equipamentos de eletrocardiograma possuírem interoperabilidade com o software contratado. Isso levava à necessidade de se copiar o resultado do exame para um pendrive, colar no computador da unidade e enviar para o cardiologista remotamente.
Em Florianópolis - Florianópolis conta com um serviço similar ao que o Estado busca, que foi contratado via pregão eletrônico, com o objetivo de implantar o Serviço de Atendimento Remoto em Saúde, denominado Alô + Saúde, para atendimento remoto em saúde à população.
O contrato prevê atendimento remoto em saúde à população, sem restrição de idade, localizada no território de Florianópolis (moradores e população flutuante), via telefone, chat de texto e videochamada, e que deve ser organizado e mantido em funcionamento em tempo integral (24 horas por dia, 7 dias na semana).
O valor total do contrato é de R$ 9,2 milhões ao ano, pago do Fundo Municipal de Saúde à Topmed Assistência a Saúde. Segundo a empresa, entre junho de 2023 e fevereiro de 2024, foram atendidas 54.751 chamadas de consultas na cidade. Cerca de 15% foram encaminhados para teleconsultas médicas.
3 - Deu ruim
Se defendeu acusando - Em entrevista reproduzida nas redes sociais da Jovem Pan News, o governador Jorginho Mello chamou a notícia de fake news pois, segundo ele, “nada foi contratado". “A prioridade do governo é a saúde. Queremos oferecer aos catarinenses condições de ele poder consultar com uma rede de médicos", disse, frisando que com as soluções da telemedicina isso pode ser feito a qualquer hora do dia.
O governador também disse que houve chamada pública para a contratação da solução e que o assunto foi encaminhado para o Ministério Público e o Tribunal de Contas. “Não tem centavo nenhum gasto", acrescentou. O presidente do Ciasc, Moisés Diersmann, protocolou junto ao TCE e ao Ministério Público do Estado um ofício solicitando um parecer sobre a legalidade do processo de implementação do Projeto de Saúde Digital.
Diário registrou homologação - No Diário Oficial do Estado de 22 de março deste ano, o Ciasc comunicou o estabelecimento de parceria para viabilização de solução de saúde digital para atender a administração pública. O resultado foi homologado por meio de memorando, com a Integra como empresa homologada.
O cronograma de implantação do sistema que consta no contrato previa a instalação de uma plataforma em setembro. O documento ao qual a reportagem teve acesso contém como última providência, na data de 19 de agosto de 2024, a solicitação de que se instrue e acompanhe o processo “com celeridade e objetividade até que o mesmo esteja apto para que a Gerência Comercial dê continuidade ao atendimento das demandas dos Clientes".
Sushigate - No domingo, expus uma nota de um restaurante caro frequentado pela deputada federal Júlia Zanatta em Florianópolis, emitida dias antes de ela votar contra a taxação de milionários. O economista e produtor de conteúdo fez um vídeo muito bom que viralizou. Além de zombar da cobrança feita por nós e por cidadãos que engajaram no conteúdo, a parlamentar gastou tempo e provavelmente mais recurso fazendo uma live no Youtube para responder com coisas como “e o PT?". Mais uma entrega lamentável dela para o contribuinte brasileiro.
Comunicador secretário - E o Bruno Souza, hein? Nosso ex-deputado conhecido por agitar nas redes com cobranças de teor ultraliberal deixou cair a divulgação de um novo programa na Jovem Pan. Acontece que o programa será três dias por semana, no meio da tarde, em horário no qual, espera-se, ele esteja trabalhando como secretário adjunto de meio ambiente do governo Jorginho Mello. Ah, esses liberais…
4 - Craque do jogo
A UFSC, durante toda essa semana, mostrou para a comunidade seus projetos de ensina, pesquisa e extensão. Tive a oportunidade de assistir palestras e de ver duas feiras enormes (em tamanho e qualidade) pelo campus: a Feira de Ciências e a Feira da Reforma Agrária, que se juntou à programação desde quinta-feira. Esse foi o assunto que mais me ocupou durante a semana e merece a menção por aqui. Quem quiser, pode visitar a Sepex ainda hoje, até 18h, e a feira da reforma agrária até amanhã.
5 - Considerações afinais
A semana passou me atropelando e mal acreditei quando um caso relevante como essa “parceria” a ser explicada pelo governo Jorginho Mello estourou no meio de uma semana agitada e atribulada. Uma semana em que também vimos Donald Trump, possivelmente uma das figuras mais repugnantes da história recente, se eleger presidente daquele país que se julga a democracia mais forte e equilibrada do mundo.
Vi algumas análises e projeção de tendências para um futuro potencialmente sombrio aqui no Brasil (e no mundo). De fato, essa notícia não nos dá muita margem para otimismo, mas o Brasil tem suas dinâmicas particulares e ainda temos dois anos pela frente. É urgente que as investigações sobre Jair Bolsonaro sejam concluídas e que os crimes eleitorais de Pablo Marçal não sejam varridos para debaixo do tapete.
Também preciso contar que essa semana fui cercada de carinho e afeto da Semana de Jornalismo da UFSC! Uma das maiores recompensas desse trabalho meio tumultuado e desgastante (mas que gosto pra caramba) é ter apoio e admiração de tanta gente boa. É um prazer caminhar com vocês <3
Ao lado da maravilhosa repórter Schirlei Alves e de alunos e professores da UFSC, essa universidade que eu amo e nessa escola que me criou!
Hoje na ALESC poderá haver a criação de uma CPI...
Os casos estão crescendo: SC em Pauta e Jornal O Globo estão noticiando. Já a NSC, somente o colunista Ânderson Silva: até quando conseguirão abafar o caso?
Muito bom! A CGE-SC tem o papel de prevenir esses escândalos no Executivo, no entanto é desprezada pelos atuais políticos