Sem política de educação e de ciência, governo de SC mergulha em lodo obscurantista
Governador Jorginho Mello repete a fórmula do insucesso: não planeja a educação a longo prazo e não dialoga com a sociedade para pensar a ciência. Vimos no que deu. Quer ver de novo?
Oi, gente!
Hoje trago novidades que parecem velhas. Porque, sim, a gente já viu tudo isso em escala nacional entre 2018 e 2022 e parece que estamos diante de uma repetição de fórmula do fracasso: um governo sem projeto e que vive de costas para a educação e para a ciência. Como esperar avanços no meio disso tudo? Não sei, só sei que tenho história para contar e você já pode ativar a barra de rolagem e vir comigo.
1 - Vi (e não vi) no jornal
Mais da mesma fórmula - Dois episódios recentes escancararam a gestão anti-democrática do governador de Santa Catarina, o bolsonarista Jorginho Mello: a greve dos professores da rede estadual e críticas à organização da Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado, que ignorou universidades e a participação popular mesmo tendo como temática a Justiça e a Sustentabilidade. Os casos repetem o projeto bolsonarista em sua essência: a falta de um projeto para a educação pública e o negacionismo científico, além de uma lógica de priorização do setor produtivo da tecnologia e inovação como se estes não dependessem do conhecimento produzido em instituições públicas.
Crise aparece - No caso da greve, os efeitos já aparecem. Na última terça-feira, 30 de abril, milhares de professores se reuniram em frente à sede do governo pedindo negociação salarial e a descompactação da folha de pagamentos - hoje, um professor em início e fim de carreira tem pouca diferença de rendimento. Dias antes, o governador já havia falado, em vídeo nas redes sociais, que não iria negociar. Além disso, ameaçou o corte de ponto e a contratação de substitutos.
Foto: Divulgação/Sinte-SC
Não saiu no jornal - Já quanto à Conferência de Ciência, Tecnologia e Inovação, os efeitos podem aparecer a longo prazo. O evento, que ocorre em junho, é promovido pelo Governo Federal e a ideia é desdobrá-lo em discussões estaduais e regionais. No último dia 25 de abril, em Curitiba (PR), a ausência do governo catarinense foi sentida na versão "Região Sul" das discussões. Enquanto Rio Grande do Sul e Paraná falaram por meio dos seus representantes máximos, Santa Catarina enviou uma gerente, que se irritou diante de uma pergunta feita pela secretária regional da Sociedade Brasileira pelo Progresso da Ciência (SBPC), Maria Elisa Máximo.
Maria Elisa, que participou da conferência estadual, pediu a palavra para destacar que a iniciativa do estado, diferentemente do que ocorreu nos vizinhos, não englobou as universidades, nem a participação popular. A fala da gestora Cristiane Iata acenou para uma solução mais alinhada ao setor produtivo, o que descaracterizaria o conceito da conferência que é ser "um espaço de diálogo, envolvendo diferentes atores da sociedade".
2 - Deu ruim
Contrapontos - "É importante que a gente traga contrapontos", pontuou Elisa. "Em Santa Catarina esse debate não aconteceu da forma como a gente entende que o ministério está propondo que aconteça", disse. Segundo ela, o resultado apresentado veio do debate basicamente de 48 pessoas. "Foi um debate que não incluiu, por exemplo, estudantes, movimentos sociais e não incluiu as universidades", disse.
Secretaria silencia - A resposta da representante do governo veio em tom ríspido e pouco cordial, basicamente devolvendo os questionamentos sobre a não participação das universidades. Procuramos a secretaria de Ciência e Tecnologia e Inovação de Santa Catarina para responder como foi a organização da conferência e por que houve tanta ênfase na participação do setor produtivo. Não houve resposta.
Sem representatividade - Já a SBPC-SC divulgou um texto detalhando o processo de organização e condução da conferência. "Em nosso entendimento, seu resultado não é representativo da sociedade catarinense, se considerarmos sua diversidade, complexidade e, o que é mais importante, as desigualdades que a atravessam", pontua o texto.
Mudando de assunto, mas não muito - Enquanto isso, o autoritarismo de outra dupla bolsonarista também chamava atenção não muito distante dali. Em Criciúma, a deputada extremista Julia Zanatta foi recebida com palavras de ordem por professores grevistas em um evento em Criciúma. “Comunistas", esbravejou ela. O marido tratou de ir tirar satisfação com o grupo. Desnecessário. Não sabe lidar com oposição, não saia de casa.
3 - Craque do Jogo
Viva, Mujica - Egoístas que somos, queremos que o ex-presidente uruguaio e um dos políticos mais amados e carismáticos da América Latina, Pepe Mujica, fique vivo para sempre. E assim será. O legado de Mujica é uma joia para a política e para o seu real sentido: políticos deviam amar e lutar pelas pessoas. O anúncio da sua doença, aos 88 anos, e o que ele falou sobre isso são uma síntese do seu pensar e do seu viver. Viva, Mujica! Viva Mujica!
4 - De olho neles
Seif livre - Mais uma vez subiu no telhado a cassação do senador extremista Jorge Seif, cuja votação no Tribunal Superior Eleitoral vem sendo adiada desde o início do mês. Os ventos parecem ter mudado e beneficiado Seif, que “deu uma segurada” no discurso ferino e lacrador e fez o dever de casa para tentar manter o mandato.
Seif é acusado de ter abusado do poder econômico na campanha de 2022, com a ajuda financeira extra-oficial do bilionário Luciano Hang. Dessa vez, a cassação foi adiada para que novas diligências e provas sobre essa movimentação sejam anexadas ao processo. O jogo está aberto, mas parece beneficiá-lo muito mais nesse momento do que um mês atrás.
22 presos - Virou meme e graça o fato de Santa Catarina ter chegado aos 22 prefeitos presos em operações que investigam fraude em licitação e organização criminosa, mas o assunto é de envergonhar. O fato de serem todos bolsonaristas, obviamente, não é coincidência.
O bolsonarismo em Santa Catarina é política de conveniência e todos querem um pedacinho para chamar de seu. Prefeitos que assumem a gestão dispostos a enriquecer e a exercer a política do compadrio aproveitam a conveniência dos mandatos populistas para fazerem o que bem entendem. No final das contas, sabem que a militância vai fingir que não viu.
4 - Considerações afinais
Todos os pensamentos estão agora com os vizinhos do Rio Grande do Sul. A emergência climática não aceita mais o descaso e a ausência de políticas públicas para conterem danos causados por desastres desse tipo. É preciso que o governo federal avance e traga os estados para uma discussão séria e com um orçamento comprometido em obras, sistemas de monitoramento, planos de evacuação e de abrigos seguros, além de assistência financeira para pessoas atingidas.
E não dá mais para pensar que isso é fruto do acaso. A ciência está há anos dizendo que o desmatamento provocado pelo agronegócio é um dos mais relevantes agentes de mudanças no clima. Resta saber até quando esse assunto vai ser secundário na opinião pública quando grandes tragédias acontecerem.
Força, Rio Grande do Sul!
Voltamos na semana que vem <3