Temer e Bolsonaro sucatearam o esporte (e todo o resto também, vamos combinar!)
Ferramenta criada pela universidade pública expõe o fracasso de gestões liberais também no Esporte. Alguém pensava o contrário?
E aí, amigos? Tudo bem?
Que semana a que passou e que semana a que teremos pela frente.
Os jogos olímpicos seguirão me distraindo (alô, Marcos Mion, tem recado para você logo abaixo!), assim como as movimentações políticas intensas que marcam o início oficial da campanha eleitoral, no próximo dia 6 de agosto.
Enquanto em algumas cidades o tabuleiro está bem demarcado, em Florianópolis seguimos com a pergunta que não quer calar: vai ter frente ampla contra o bolsonarismo representado pelo atual prefeito e seus novos aliados? Eu digo que não, mas posso estar errada.
Vem de barra de rolagem que hoje temos outros assuntos também.
1 - Craque do jogo
Aos 33 anos, Caio Bonfim garantiu uma medalha histórica para o Brasil em uma das provas mais tradicionais das Olimpíadas: a marcha atlética. O brasiliense chegou em segundo lugar e contou que cresceu com Joaquim Cruz, a quem atribuiu a conquista do Bolsa Atleta. Caio é um dos beneficiários do programa criado há 20 anos na primeira gestão de Luiz Inácio Lula da Silva e que já remunerou 105 mil pessoas para treinarem e se prepararem para competições.
O apresentador global Marcos Mion usou suas redes sociais dias antes para fazer uma severa crítica ao governo federal, que na sequência ele mesmo fez questão de dizer que não era crítica, mas um erro de interpretação. O comunicador global reclamava de como o governo tratava os atletas olímpicos e usava a desinformação para fazer parecer que qualquer fracasso era oriundo de uma suposta má gestão.No seu roteiro, Mion esqueceu de falar que no governo Jair Bolsonaro o Ministério do Esporte foi extinto.
Ciência e dados - O projeto Transparência no Esporte me ajudou a entender o financiamento público federal no esporte por parte do governo. Há uma diferença no que se investiu no governo Dilma Rousseff, Michel Temer e na gestão Jair Bolsonaro. Mesmo corrigidos para o IPCA/IBGE de junho deste ano, os valores não mentem: o governo Dilma investiu R$ 2 bilhões a mais do que Bolsonaro no primeiro ano do seu segundo mandato em comparação ao primeiro ano do sucessor.
Bolsa Atleta - O projeto Transparência no Esporte sintetizou o volume de investimentos no programa desde 2005. Sob Michel Temer e Jair Bolsonaro os gráficos indicam uma queda expressiva nos valores pagos aos esportistas e também nos números globais relacionados ao financiamento público federal.
Em 2014, ano em que houve ápice de pagamentos do Bolsa Atleta, foram mais de R$ 247 milhões. Em 2016, já sob Temer, esse valor foi reduzido em dez vezes, já com correção pelo IGP-DI. Voltou a crescer em 2019, com cerca de R$ 108 milhões, mas passou por novas quedas ao longo do governo Bolsonaro, com um leve crescimento na ordem de R$ 84 milhões no primeiro ano de Lula 3. No primeiro ano de pandemia, o valor só foi maior do que nos três anos de mandato de Temer.
Os números falam - Para o pesquisador Fernando Henrique Silva Carneiro, professor do IFG e coordenador do portal Transparência no Esporte, o processo de golpe contra a ex-presidente Dilma Rousseff, que levou Temer à presidência e fez com que Bolsonaro fosse eleito, resultou na descontinuidade e desestruturação das políticas esportivas no país.
“Expressão disso foi deixar de existir o Ministério do Esporte, mas também a diminuição do financiamento das políticas esportivas. Nos governos Temer e Bolsonaro houve paralisia das política públicas de esporte, enquanto setores privados se fortaleceram. O que aconteceu no esporte é expressão do que se deu em outras políticas públicas, reflexos da agenda ultraneoliberal destes governos”, avalia.
O professor também explica que, ao longo do tempo, o Esporte de Alto Rendimento tem sido a dimensão do esporte priorizada no financiamento público federal. “O pico de recursos federais para o Esporte de Alto Rendimento se deu no ciclo prévio aos Jogos Rio 2016, desde então os recursos não alcançaram o mesmo patamar”, conta.
Diferentes pilares - “Pela literatura científica há diferentes pilares de políticas esportivas que influenciam o sucesso internacional, sendo o financiamento do esporte um pilar fundamental para que um país tenha um bom resultado”, comenta Fernando.
De acordo com o professor, é fundamental que haja previsibilidade e constância no financiamento do esporte de alto rendimento. “Isso não tem acontecido, pois o setor acaba tendo uma variação muito grande dos recursos públicos disponíveis. Grande parte dos recursos que são para o Esporte de Alto Rendimento são geridos por entidades de administração esportiva, sendo fundamental que estas sejam mais transparentes e lidem com recursos públicos a partir de compromisso social”, assinala.
Ainda, o professor destaca que é importante que haja continuidade e ampliação de políticas públicas como o Programa Bolsa Atleta, por darem condições materiais para que os atletas possam focar em seus treinamentos. Em julho, o governo anunciou o reajuste de 10,86% nos benefícios pagos em todas as categorias. Estes valores não eram corrigidos há 14 anos.
2 - Deu ruim
Dou-lhe uma - O governador Jorginho Mello tinha (ou tem) nada mais nada menos do que um banner com a sigla e o número do seu partido (o PL) dentro da Casa da Agronômica, a residência oficial do governador. A peça publicitária foi registrada "meio sem querer" em uma foto postada (e já deletada) por um pré-candidato a vereador na Capital, no fim de semana das convenções do PL e da coligação do atual prefeito Topázio Neto.
Passei a semana falando disso porque é um caso clássico de uso de prédio público com finalidade política. E pode? Não pode!
O banner parece o mesmo que o pré-candidato do PL em Criciúma, Ricardo Guidi, usou para mostrar o apoio da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro à sua candidatura. Michelle, na foto, está com o mesmo traje com o que circulou na casa da Agronômica assim que chegou em Florianópolis.
Dou-lhe duas - Não satisfeito com a repercussão do caso, Mello ainda deixou-se flagrar em reunião com pré-candidatos e com a secretaria de Articulação Nacional na secretaria, que fica em Brasília, mas que também é órgão de Estado. Alguém vai dizer que é burrice, mas eu arrisco interpretar diferente: é a sensação de que ninguém está olhando. E de que, se estiverem olhando, nada vai ser feito.
3 - Vi no Jornal
Dou-lhe três - O PT aproveitou a repercussão do caso, que foi pauta na mídia nacional, para representar contra o governador, alegando crime eleitoral. A ação deverá ser remetida pelo TRE ao Ministério Público, a quem cabe investigar e decidir pela denúncia ou arquivamento. Um possível arquivamento deixaria um clima de vale tudo nas eleições. O uso da máquina pública é uma das estratégias mais antigas de quem detém o poder para continuar no poder. Banalizá-lo dessa forma seria um risco muito sério para a justiça eleitoral.
4 - De Olho Neles
Nesse espaço eu geralmente trago questões relacionadas à transparência pública, mas vou subverter minha própria regra porque não se fala outra coisa em Florianópolis, a capital de um dos estados mais conservadores do país: afinal, teremos uma frente ampla progressista para conter o bolsonarismo, dessa vez representado pelo candidato a reeleição Topázio Neto?
Hoje, quinta-feira, 11:44 A.M, eu cravaria que não. Mesmo após uma reunião inesperada ocorrida na noite de ontem, lideranças do PSOL confirmam publicamente que Marquito será aclamado na convenção deste sábado. Por outro lado, nos bastidores, o PT tem certeza que o partido vai ceder e compor com o partido, validando Lela como cabeça de chapa.
O que se mostra, para mim, que tenho conversado com fontes de todos os lados, é que existe muito mais uma disputa do que uma tendência à uniformidade. Mas é possível que a questão econômica, com um PSOL de cofres vazios, acabe imperando. Só saberemos aos 45 minutos do segundo tempo.
5 - Considerações finais
Escrevo essa newsletter com um pé (o direito) em Salvador, onde vou fechar pelo menos mais uma edição dessa nova conversa semanal. Vou perder a passagem do presidente Lula por Santa Catarina, prevista para o dia 9 de agosto…e que deve render muita história para contar.
Mas vou ganhar outras coisas: rever uma amiga muito amiga, conhecer o bebê dela e vibrar todo o axé do mundo. Sou apaixonada por Salvador e todas as vezes em que estive lá, algo muito marcante na minha vida aconteceu. No aguardo e saravá!
Até já já!