Onde estávamos com a cabeça?
Oi, gente! Tudo bem?
Por aqui, aquela sensação de fim de ano com fim de mundo e uma preocupação cada vez maior de entender onde estávamos com a cabeça quando escolhemos tão mal nossos representantes em SC. Quem poderia achar que ter um governador bolsonarista cercado por parlamentares extremistas ia resultar no cada vez mais claro comprometimento da imagem do nosso Estado e da nosso cidadania? A votação sobre o feriado do dia da consciência negra demonstra um pouco isso. Vejamos o que mais rolou, porque foi suco de vergonha alheia, como sempre.
1 - Vi no Jornal
1 - Juíza exposta - Todo mundo viu, em alguma rede social, o caso da juíza de SC conduzindo de forma grosseira e infeliz uma audiência trabalhista em Xanxerê. Aos berros, demonstrando arrogância e autoritarismo, se dirigiu a uma testemunha violentamente. O que não sabíamos quando o vídeo viralizou é que ela tem um histórico grave de depressão. O Sakamoto contou a história aqui. Eu concordo que isso não é salvo conduto para erros, mas a saúde mental é questão a ser enfrentada de forma séria em qualquer ambiente de trabalho, seja público ou privado.
2 - Juiz exposto - Será que só em SC um deputado estadual tem carta branca pra chamar um juiz de energúmeno e de “juiz de bandido” sem passar por nenhum tipo de constrangimento? Todo mundo que acompanha política no Estado sabe que Jesse Lopes (PL) não é nada educado e cordial, mas o xingamento ao hoje desembargador substituto João Marcos Buch passou bastante dos limites. Seus colegas, entretanto, não concordaram e passaram pano. Buch tentou processar Jessé, mas a Alesc engavetou. Upiara conta aqui.
Reconheço que a imunidade parlamentar freia excessos e perseguições políticas, mas a ponto de permitir que parlamentares xinguem servidores públicos dessa forma? Onde está o decoro? A situação fica ainda mais patética quando vemos que vem sendo frequente que parlamentares usem seus mandatos para processar cidadãos.
3 - No TSE - Pelo que dizem por aí, o senador carioca, porém catarinense, Jorge Seif (PL) deve ser cassado quando o processo que investiga seus voos com o véio da Havan chegar na corte do Xandão. Que pena pra ele e que bom pra nós! Mas calma, não é o segundo colocado no pleito, Raimundo Colombo (PSD), que vai assumir a vaga. Provavelmente haverá eleição e a gente vai ter que torcer MUITO pro catarinense não apertar 22 sem olhar pra urna de novo.
4 - No STF - Vem aí o Flávio Dino, hein! Eu faço parte das pessoas que espera por mais equidade de gênero e representatividade na mais alta corte da justiça do nosso país, mas compreendo que o contexto e as articulações políticas tenham levado ao nome de um ex-juiz combativo, extremamente inteligente e corajoso para enfrentar tempos anti-democráticos. No mais, a estridência que a indicação causou nos extremistas do PL e no senador Sérgio Moro mostram que a escolha parece ter sido acertada.
2 - Craque do jogo
1 - Décio Lima calou Jorginho Mello em uma reunião realizada quando da visita do ministro Waldez Goes, da Integração e Desenvolvimento Regional, ao Estado no último final de semana. O governador de SC insiste numa história inventada por ele de que o presidente Lula deve um montante utilizado na recuperação das BRs de SC. Não é verdade. Décio lembrou e eu lembro também que o que Jorginho cobra foi um investimento feito pelo ex-governador Carlos Moisés para compensar o descaso de Jair Bolsonaro com a infraestrutura rodoviária do estado.
2 - Ana Hickman deu uma entrevista reveladora sobre as violências sofridas ao longo do tempo, tanto com seu pai, quanto com seu agora ex-marido, que a agrediu recentemente. Ana é uma mulher rica e bem sucedida, o que teoricamente faz com que não esteja nas estatísticas mais comuns de violência doméstica. Por isso, também, sua fala ecoa. Ouvi-la falar pode mobilizar outras mulheres a saírem de relacionamentos pautados na agressividade e na opressão. Obrigada, Ana!
3 - De olho neles
Dobradinhas - Além de empregar o marido de Julia Zanatta no BRDE, o governador Jorginho Mello emprega a esposa do senador Jorge Seif como secretaria adjunta de Turismo de SC. Os dois estão em pastas apelidadas por alguns políticos de “embaixadas”, trabalhos com menor pressão e também menor fiscalização e crítica por parte dos cidadãos e da imprensa.
O salário mensal de Catiane é de R$ 23.030,25. Em 2023, ela obteve R$ 16.916,00 em diárias, sendo R$ 12.312 apenas no mês de novembro, quando fez uma viagem internacional para a Russia, com baixíssima repercussão da “missão” na imprensa.
Já o senador Jorge Seif recebe, por mês, R$ 41.650,92. Bom, se somarmos somente o salário mensal dos dois já chegamos ao gordo valor de R$ 64.681,17. Multiplicado por 12, são R$776.174,04. E por quatro anos chegamos à fantástica soma de R$ 3.104.696,16.
A conta foi grosseira, mas a ideia é mostrar como um casal que usufrui de mandato parlamentar e cargo público comissionado em alto escalão ao mesmo tempo pode extrapolar completamente ao padrão de renda média de cidadãos comuns. Tem alguma ilegalidade aqui? A princípio não, estamos falando de salário, direito do trabalhador. Mas e imoralidade?
Vale lembra que o compadrio Seif - Jorginho Mello se estende também à família Bolsonaro, que tem cargo comissionado no gabinete do senador e no governo de Jorginho. Pior do que isso só constatar que nenhum desses ocupantes de cargos públicos vêm se destacando em seus mandatos ou promovendo ações relevantes para o Estado.
Voo a Jato - Aqui, o amigo Diego Feijó de Abreu começa a contar uma história que ele apurou incansavelmente e que traz informações que eu desconhecia: a cota parlamentar de combustível para deputados também pode abastecer jatinhos. Ele começou a apresentar o tema nessa semana, mas deve vir mais coisa por aí. Não deixem de apoiar o trabalho de Diego, que é independente e traz informações de utilidade pública para nós.
4 - Deu ruim
1 - A favor da liberdade de expressão, só que não - quem me acompanha no Twitter viu que um assunto em especial mobilizou minha atenção ao longo da semana: mais um caso de assédio judicial por parte da deputada Julia Zanatta, extremista radical do PL, com uma professora em Joinville. A professora, de quem preservo o nome, foi minha colega de trabalho por 9 anos. Com ela tive imensa proximidade, tanto em projetos que fizemos juntas, quanto no modo de pensar e entender o mundo. Sempre senti que, mesmo colegas, fui sua aluna também.
A deputada entrou com diferentes recursos judiciais porque um aluno gravou a professora, durante a aula, respondendo questões que ele fazia sobre Julia. A docente falava sobre fontes históricas pautadas em símbolos. O corte da aula enviado como denúncia motivou Zanatta a expor a situação em suas redes sociais e a pedir retratação na Justiça e também uma ação imediata da instituição.
Graças a minha amiga, Maria Elisa Máximo, que também foi alvo de perseguição política em Joinville e teve que se exilar da cidade, conseguimos mobilizar uma rede de apoio à professora para bancar o jantar da deputada com o "maridão” (SIC). Episódios tristes que se transformam num gesto de união, solidariedade e apoio entre quem defende a educação nesse Estado tomado de extremismo.
Chama atenção, no entanto, a insistência de Zanatta em calar com processos seus críticos. Não é uma atitude democrática e depõe muito contra o seu preparo para encarar a política e viver nesse meio. Júlia processa cidadãos que a criticam, mas defende a liberdade de expressão dos “patriotas”- esses podem falar o que bem entendem. Enquanto se ocupa e ocupa o judiciário com suas questões pessoais, a deputada segue não apresentando nada para os cidadãos de SC com seu mandato.
2 - Bolsocheio e os bicheiros - assisti em uma tacada só a série Vale o Escrito, da GloboPlay, que traça um panorama do crime envolvendo os bicheiros do Rio de Janeiro. Em meio a um cenário sanguinário, de muita violência e impunidade, chama a atenção a inclusão do senador Flavio Bolsonaro (PL), do ex-presidente Jair Bolsonaro e do ex-assessor e amigão Flávio Queiroz como personagens da narrativa. Eles aparecem quando é apresentada a história do matador de aluguel e ex-policial Adriano da Nóbrega, um dos chefes do escritório do crime. Nóbrega, que foi executado quando estava foragido, tinha relação próxima com a família do nosso ex.
5 - Considerações “afinais”
Essa semana, entre uma chuva e outra, tive respiros de sol e paz na praia. Morar pertinho do mar é qualidade de vida. E enquanto o mundo não acaba em razão do aquecimento global, a gente torce pra que mais dias assim sejam possíveis.
Sextou, gente! :-*