Silêncio cúmplice dos bolsonaristas sobre vacinação surpreende ZERO pessoas
Campanha contra doença que pode voltar ao país é negligenciada por gestores que publicaram decretos anti-vacina no início do ano
Oi, pessoal!
Daqui a alguns dias viajo a Córdoba, na Argentina, para falar sobre como os prefeitos e o governador bolsonarista de Santa Catarina usaram decretos anti-vacina como ferramenta de marketing político eleitoral.
Coincidentemente, Ministério da Saúde lançou, nesta semana, a campanha de vacinação contra a poliomielite, doença que deixou de circular no Brasil por conta das políticas de vacinação. Fui ver como esses gestores anunciaram a campanha nas suas cidades, porque sei o quanto eles estão preocupados em salvar vidas, afinal de contas, a saúde é dos bens mais importantes que temos.
Bora de barra de rolagem?
1 - Deu ruim
Silêncio, gênios pensando - Desde 2018 Santa Catarina não atinge a meta de 95% de cobertura vacinal contra a poliomielite, cuja campanha começou a ser divulgada pelo Ministério da Saúde no início desta semana, com o Dia D marcado para 8 de junho. Sem a meta, há riscos de reintrodução da doença no estado, que no dia 30 de maio registrava índices de cobertura de 90,04% da vacina injetável e 80,59% da oral bivalente, o que indica que os pais não estão completando o esquema de vacinação, composto pelos dois tipos de imunizantes na infância.
Apesar da urgência de divulgação da campanha, nas suas redes pessoais o governador Jorginho Mello (PL) e os prefeitos bolsonaristas das principais cidades do Estado evitam o tema, mesmo tendo feito alarde, há cerca de quatro meses, com a emissão de decretos com teor anti-vacina largamente difundidos em vídeos e postagens.
Lembra disso? - Naquele momento Mário Hildebrandt (PL), prefeito bolsonarista de Blumenau, emitiu um decreto desobrigando as crianças da cidade de serem vacinadas contra a Covid-19 para a matrícula na rede escolar. A medida teve uma espécie de efeito manada, espalhando-se por outros municípios até ser considerada inválida pelo Supremo Tribunal Federal após uma ação ajuizada pelo PSOL-SC.
Cidades como Criciúma, Chapecó e Joinville também emitiram decretos, o que foi rapidamente seguido pelo governador catarinense. Em 2 de fevereiro, Jorginho Mello gravou um vídeo em que disse que "em Santa Catarina a vacina não é obrigatória. Fica na consciência de cada catarinense", referindo-se à prevenção da Covid-19 em crianças. Na postagem no Instagram, foi aplaudido e elogiado por Eduardo Bolsonaro e chegou a fixar o comentário do aliado anti-vacina.
Coincidência ou destino? - Coincidentemente, Santa Catarina não atinge a meta recomendada pelo Ministério da Saúde contra a polio desde o ano da eleição do ex-presidente Jair Bolsonaro, assumidamente anti-vacina e um dos líderes inspiradores de políticos como Clésio Salvaro (PSD), prefeito de Criciúma, maior cidade da região Sul; Adriano Silva (Novo), de Joinville e João Rodrigues (PSD), de Chapecó. Juntos, eles são responsáveis por uma população de 1.038.982 pessoas.
Poder até ser bolsonarista, só não pode deixar de vacinar! (Criado por inteligência artificial)
2 - De olho neles
Ninguém apagou - Entre janeiro e fevereiro, estes prefeitos que assinaram decretos com teor anti-vacinação foram seguidos por outros 16 gestores municipais. Ainda assim, não apagaram as postagens em que divulgavam os decretos desobrigando a vacina contra a covid-19 e não fizeram qualquer menção à campanha recém-lançada pelo Ministério da Saúde para evitar que uma doença erradicada volte a gerar sofrimento e mortes no país.
Prioridades que chama - O governador Jorginho Mello, na semana em que a campanha foi lançada, postou fotos com o ex-Ministro da Economia, Paulo Guedes e comemorou o veto do Congresso às "saidinhas" de detentos. Já Hildebrandt, de Blumenau, postou versículos bíblicos e campanha anti-esmola. João Rodrigues, por sua vez, fez vídeos mostrando sua ação de ajuda ao Rio Grande do Sul, enquanto Clésio Salvaro até postou fotos de um neto recém-nascido, mas sem comentar nada sobre vacinação infantil. Adriano Silva, candidato à reeleição em Joinville, aparece divulgando obras pela cidade.
3 - Craque do jogo
Zé Gotinha - Eu sou uma entusiasta da ciência e da vacina, por isso peço a todos vocês que espalhem esses links para que mais crianças sejam vacinadas: você pode saber mais sobre a doença e sobre a campanha de vacinação no Estado. E, finalmente, aqui sobre a campanha no país. Bora vacinar?
Leonel Camasão - O vereador suplente do PSOL organizou um debate importante sobre um tema tabu em Santa Catarina: a censura e o autoritarismo. Fui uma das debatedoras, junto com a jornalista Schirlei Alves, a professora Maria Elisa Máximo, o advogado Lucas Mourão, o apresentador e performer Arthur Gomes e o produtor cultural Thomas Dadam.
Leonel é processado pelo bilionário Luciano Hang e pela deputada extremista Julia Zanatta, além de já ter enfrentado embates judiciais com o senador Jorge Seif e com o ex-diretor da Polícia Rodoviária Federal Silvinei Vasques, preso por suspeita de participação na tentativa de golpe nas eleições de 2022.
O debate foi muito importante, mas também muito triste, pois teve como base depoimentos de pessoas que sofreram e sofrem uma dura opressão pelo seu trabalho e/ou pelo seus posicionamentos políticos. Isso sem contar nos preconceitos de gênero e na homofobia que também se apresentaram nos episódios relatados. Não podemos aceitar isso ou naturalizar esse tipo de coisa.
Grupo planeja criar uma frente de combate à censura e em defesa da liberdade de expressão (Foto: Jéssica Michels)
4 - Vi no Jornal
Trump condenado - 34 acusações confirmadas e definidas por um júri não é pouca coisa, não é mesmo? E o bilionário Donald Trump agora está encrencado na disputa eleitoral para a presidência dos Estados Unidos, muito embora seus fanáticos sejam tão negacionistas como os nossos. Este é o primeiro caso, nos EUA, de um presidente condenado criminalmente.
Praias privatizadas - Um projeto de emenda constitucional relatado no Senado por Flávio Bolsonaro está colocando em risco nossas praias. A PEC pode enfraquecer a proteção ambiental e favorecer a especulação em territórios valiosos e bastante disputados, especialmente em áreas turísticas. A proposta seria liberar os terrenos de marinha, que pertencem à União, aos municípios, estados ou entes privados para mudar a forma de gestão. Essas transações podem ser perigosas até para o favorecimento de ocupações desordenadas.
Secretário Preso - O ex-secretário de Turismo de Florianópolis, Ed Pereira, que até pouco tempo trabalhava lado a lado do prefeito Topázio Neto foi preso em nova etapa da Operação Presságio, por suspeita de corrupção. Na conta da esposa dele já haviam encontrado R$ 324.745,17 em transações, também com depósito em dinheiro vivo. Ed, aliado do ex-prefeito Gean Loureiro, estava afastado da gestão, mas não é possível que se esqueça onde ele estava há pouco tempo. Era cotado, inclusive, para ser vice de Topázio.
5 - Considerações afinais
Semana que vem não vou chegar na caixa de e-mails de vocês, mas, por favor, não desistam de mim. Como vou viajar sem meu notebook e de férias, infelizmente não será possível editar a newsletter. Mas eu volto na outra semana. Até lá, continuem acompanhando o Twitter e o Instagram, onde devo aparecer como sempre.
Até a próxima ;-)